quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A VIDA por Marco Uchôa




O que a iminência da morte é capaz de provocar em uma pessoa jovem e promissora? No caso de Marco Uchôa: serenidade e uma nova (e mais profunda) compreensão dos caminhos da vida.
Em 2003, o jornalista Marco Uchôa descobriu-se portador de um agressivo tumor ósseo. Aos 34 anos, casado, pai de um filho e com uma carreira promissora – havia dez anos era repórter do Fantástico –, ele teve de parar. Lutou dois anos contra a doença. Suportou a quimioterapia, mais de 20 cirurgias, reaprendeu a andar, usou muletas. Quando morreu, aos 36 anos, deixou uma legião de amigos e um testemunho de rara coragem, na forma de um diário no qual registrou momentos de perplexidade, resgatou a importância do afeto dos que o cercavam e externou as coisas que queria que o filho soubesse. “É um diário feito com a alma de alguém que soube viver e morrer com idêntica dignidade”, diz Anna Costa, mulher do jornalista por 15 anos.

Meu ex-marido, o repórter Marco Uchôa, batalhou por dois anos e dois meses contra o câncer, um tumor chamado osteossarcoma. Para driblar a monotonia e entender melhor o que se passava com ele, Marco escreveu um diário entre setembro de 2003 e novembro de 2005. É uma leitura emocionante e saudosa, de textos escritos com sabedoria, elegância e transparência. Um diário feito com a alma de alguém que soube viver e morrer com idêntica dignidade. Um homem por quem ainda tenho um grande carinho e enorme orgulho por ter convivido durante 15 anos.Anna Costa
Leia, a seguir, a carta que Marco Uchôu escreveu para seu filho.
A ÚLTIMA CARTA 
Domingo, 14 de novembro de 2005
Querido Victor,
Canário, por que canário? Ora, porque você é aquele garoto que chega da escola sujo, ensopado. Adoro esse cheirinho de moleque feliz. Victor, saiba que seu pai veio cumprir uma missão. Acho que chegou a hora de me despedir e virar uma estrela. Estarei sempre lá em cima no céu, pronto para te olhar, te ouvir e te apoiar em tudo. SEMPRE!
Sempre que se sentir aflito, indeciso, olhe para o alto. Outro jeito de me ver é se olhar no espelho. Estarei refletido nele. Você é uma parte de mim. Fruto do lindo amor meu e de sua mãe, a mulher que mais me ensinou nesta vida.
Conheci o amor verdadeiro com ela, conheci o mundo com ela. Anna é o meu brilhante! O amor de minha vida. Victor, torço para que você encontre uma Anna em sua vida. Quero, de verdade, que você seja feliz, não importa o jeito.
Lembro de você bagunçando em cima da cama. Morria de rir. Meu Tuco, Victor, Tutu, Canário: serei sempre seu, meu filho. Queria deixar mais e mais para você, mas acho que os valores mais importantes desta vida são: Seja correto com as pessoas. Faça com os outros o que gostaria que fizessem com você. Respeite sua mente, seus desejos, seu corpo. Acima de tudo, seja feliz, uma sensação ótima. Senti isso várias vezes ao lado de sua mãe.
Filho, esses olhos puxados são seus, são nossos. São a nossa marca. Em você ficaram lindos! Você é belo por dentro, Victor. Sentirá saudades, claro, mas quando esse sentimento bom aparecer, lembre-se das nossas brincadeiras, do “canário”, do “escatológico”.
Papai encontrou uma princesa na terra. Com ela aprendeu a viver. Fizemos você com amor. Não se esqueça um só segundo de que, de onde estiver, eu estarei te olhando. E te abraçando, meu moleque querido.
Seja um homem de bem, feliz!
Seu sempre pai, papito,
MARCO UCHÔA

Nenhum comentário:

Postar um comentário