sábado, 21 de julho de 2012

ASPECTOS DE UMA CIDADE REMANESCENTE: JACUNDÁ


História de uma cidade submersa

Por Jualison Viana da Silva

RESUMO

A cidade de Jacundá antigamente localizava – se as margens do Rio Tocantins, a necessidade de
remanejamento da cidade veio a partir da construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí no estado
do Pará, que inundou uma vasta área, inclusive Jacundá. O alagamento trouxe grandes impactos
tantos naturais como sociais, trazendo benefícios como a geração de novos empregos, mas também
malefícios com as inundações, que fez com que muitas pessoas precisassem se deslocar para outros
lugares em busca de um novo lar. Irei relatar a todos os acadêmicos de maneira clara e objetiva
sobre a história dessa cidade que existe a mais de 50 anos. Tenho como base o livro de Claudionor
Gomes da Silveira - Uma cidade Submersa: memória e história de Jacundá (1915-1983) e algumas
pesquisas realizada na Biblioteca Pública de Jacundá, que através dos materiais expostos em seu
acervo me ajudou a ter informações que foram suficientes para iniciar o meu trabalho.
Palavras – chave: Jacundá. Submersa. Rio Tocantins. Usina Hideletrica de Tucuruí.

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho o assunto a ser tratado é o de uma cidade que por motivos políticos teve sua
história submersa de maneira que ficassem apenas lembranças daqueles que um dia viveu ou
conheceu a historia de Jacundá, com isso o sonho de varias famílias de origem pobres, em que tudo
o que lhes restava era suas raízes e planos para o futuro. Mas mesmo com tantas incertezas existiam
aqueles que ainda viam nessa nova cidade um rumo e um lugar melhor para viver, com condições
de trabalho e conforto.
Em meio a tantas dificuldades não lhes restavam muitas opções e todos foram obrigados a
acatar a implantação desse projeto político que era a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí,
no Estado do Pará.

2 INÍCIO DO OCUPAÇÃO NA REGIÃO

O processo de ocupação da Amazônia ocorreu através de medidas estratégicas
governamentais em que o governo queria legitimar a posse do território nacional. Desde o século
XVII os portugueses na tentativa de garantir a posse do território, criaram fortes armados como
mecanismo de defesa contra invasões das nações estrangeiras, surgindo assim os primeiros
povoados, os quais mais tarde viriam à forma grandes cidades da Amazônia.
As missões jesuítas e a intensa procura pelas drogas do sertão também contribuíram
significativamente para a ocupação da região, e a descoberta de drogas do sertão, impulsionou a
penetração de muitos trabalhadores na floresta, os quais fixaram – se em varias partes do território,
ocorrendo o surgimento de vilas e povoados. Esses trabalhadores viam de todas as partes do Brasil
com intuito de conseguir melhores oportunidades, mas muitos deles viam sem nenhum subsidio
para se manter, o que os obrigava a ser totalmente dependentes dos grandes comerciantes da região.
“Para extrações dessa seiva (...) o comerciante fornece o credito, o material necessário à
penetração do trabalhador na mata, incluindo ferramenta e mantimento. O que implicaria
com isso, é que o individuo já se comprometia antecipadamente a entrega das drogas ao
mesmo comerciante; é o que se denomina sistema de aviação.” (SILVEIRA, 2001. p. 25).
Dentre esses vilarejos que foram sendo criados, surgiu a cidade de Jacundá que antigamente
era localizada as margens do Rio Tocantins. A área originária do município de Jacundá teve entre
os primeiros ocupantes brancos o coronel Francisco Acácio de Figueiredo, integrante da comitiva
do deputado e coronel Carlos Gomes Leitão, que chegou ao local em 1915. O pequeno povoado
começava a se destacar em função de ter se tornado porto obrigatório de baldeação de mercadorias.
Jacundá também contava com significativa reserva de castanhais e, por conta disso muitos
comerciantes colocaram representantes na localidade. Também em 1915 cem moradores fizeram
um baixo assinado e conseguiram fixar o povoado ao território de Marabá. Na época a principal
atividade econômica além das castanheiras era a exploração de drogas do sertão, como caucho,
diamante e extrativismo da borracha.
O nome da cidade originou – se através de um peixe que era bem comum na região, o peixe
Jacundá. Está palavra também designa a uma dança indígena que imita a pesca do Jacundá. Nela
homens e mulheres forma um circulo de mãos dadas alternadamente, para o centro da roda vai um
casal de cada vez em torno do qual o circulo gira ao som de uma música.
Jacundá começou a desenvolver – se economicamente e junto com isso surgiu à necessidade
de emancipação. Jacundá e Itupiranga inicialmente era distrito de Marabá, mas logo após a
emancipação de Itupiranga, Jacundá passou a pertencer a Itupiranga.
Dessa forma em busca de autonomia política em 1961 foi estabelecida a lei Nº 2.460 de 29
de dezembro de 1961, que reconheceu legalmente o município de Jacundá. A partir disso foi se
constituindo grupos políticos da localidade. Em 31 de março de 1962 Jacundá recebeu seu primeiro
prefeito, o senhor Manoel de Freitas, cujo a nomeação foi feita pelo governador do Estado, mas
após 15 dias de mandato o atual prefeito foi substituído pelo senhor Manoel Heliodório Nogueira, o
mesmo ocupou o cargo até 1º de dezembro de 1962. Ainda nesse ano o comerciante Inácio Pinto da
Silva foi aclamado pelo povo como prefeito de Jacundá. Seu governo durou até dezembro de 1966.
E a partir disso surgiram outros governantes que vieram para a região em busca de melhorar as
condições do município.
Em virtude de um projeto político da construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT),
no final de 1977, o povo de Jacundá foi surpreendido em suas residências pelos técnicos de uma
firma contratada pelo Eletronorte que iria então fazer o levantamento da área a ser inundada do
grande lago de reservatório de Tucuruí/PA.
“Uma firma que trabalhava pra Eletronorte fez um levantamento da área. Então eles
chamavam na nossa propriedade e mandava todo mundo parar de trabalhar e diziam: “Olha!
Vocês não façam mais nada a partir de agora, porque se vocês fizerem não vão receber”. E
conferiam tudo que era planta que tinham que indenizar... eu tirei foto até do galinheiro e
do sanitário. Só que quando foi na hora de pagar, foi uma negação. Tinha uma negociação,
mas essa negociação só valia o preço que ele dava.”(SILVEIRA, 2001. p. 90).

2 QUESTIONAMENTOS

Um clima de medo e incerteza passou a tomar conta dos jacundaenses, independente de
classe social, cor ou culto religioso o abatimento tomou conta de todos, pois já não se tinha certeza
quanto ao porvir. Muitos se querem acreditavam que as águas invadiriam suas propriedades, porém
todos pareciam dominados por um misto de dor e revolta, mesmo aqueles desprovidos de bens
materiais. Muitos não tinham certeza para onde seriam conduzidos e quais as condições reais do
novo lugar onde seriam relocados. E como será processo de adaptação? Receberiam uma terra rica
como a de Jacundá? Teriam no novo lugar, castanha e diamantes para serem extraídos? A
Eletronorte indenizaria com justiça suas benfeitorias? A Eletronorte construirá uma cidade para
nós?
Muitas interrogações passaram a incomodar os jacundaenses, diante da inesperada situação e
pressões dos funcionários da Eletronorte, muitos limitaram – se a criticar individualmente e não
projetaram nada contra o que estava sendo imposto. Até porque muitas dessas pessoas eram simples
e acabaram se deixando levar pelas promessas dos funcionários da empresa.
Iniciaram – se as reuniões que iriam acertar detalhes acerca da indenização. Ficou
combinado depois de varias reuniões que a empresa os remanejaria para a cidade pronta, com
saneamento e arborização e todos receberiam uma casa, alimentação e um salário mínimo até se
adaptarem a nova rotina. Os valores provenientes da avaliação das propriedades seriam ressarcidos
e os respectivos funcionários receberiam 100 hectares e uma casa rural padronizada.
Após a última reunião em que ficou decidido o pagamento por parte da empresa, o
transporte dos moradores até a Vila Arraiais, que era onde a Eletronorte estaria montando toda infra
– estrutura para recebe – los, os funcionários da empresa tomaram uma postura diferente,
adquirindo um caráter agressivo, alegando que por razões alheias a empresa teria decidido que
apenas pagaria uma razoável indenização pela residência e demais benefícios e que cada um se
remanejasse por conta própria e para onde bem entendessem. Os funcionários fizeram os moradores
entender que não tinham outra opção. Frente a essa surpresa que frustrou a todos, ouve tentativas de
organização de movimento que foi em vão.
A partir então Jacundá começou a ser desconfigurada, tudo foi se transformando em ruínas,
como se tivesse sofrido um vendaval. Os próprios moradores na tentativa de reaproveitar materiais
como telha, madeira começaram a destruir suas casas. A ordem estabelecida pela Eletronorte era
que carregassem tudo que desse, e foi obedecido pois não ficou quase nada inteiro. Só o que ficou
para trás foram sonhos, costumes e o suor de trabalhadores que passaram a vida em busca de algo
melhor.

3 RUMO A UM NOVO LUGAR

O remanejamento para Vila Arraias ocorreu de forma rápida. No início de 1980 Jacundá já
era uma cidade abandonada. E como se esperava as promessas feitas não foram cumpridas, os
remanejados ao chegarem na Vila Arraias não encontraram abrigo para suas famílias, as casas que
os funcionários da Eletronorte diziam existir, ainda estava em fase de construção, além disso a
quantidade de casa não abrigava nem a pequena parte da população. Havia em um bairro mais
centralizado, um aglomerado de casas padronizadas que eram destinadas a instalação de órgãos
públicos, e parte a funcionários da empresa e alguns funcionários do município. Desta forma, foram
criados alojamentos improvisados em escolas e prédios, onde todos de forma desordenada foram
distribuídos.
Com o fim da construção do projeto no final de 1984, Jacundá ficou submersa pelas águas
do grande lago da hidrelétrica e o sonho de regresso de muitos se desfez totalmente. Houve a
inundação de cerca 900 km² deixando submersas cachoeiras, canais, garimpos de diamantes além da
antiga sede do município e alguns vilarejos. Ouve a necessidade de a sede municipal ser transferida
das margens do Rio Tocantins para a Vila Arrais, no Km 88 da rodovia PA 150, hoje conhecida
como Nova Jacundá.

4 NOVA JACUNDÁ

O município de Jacundá atual, distância – se 100 km de Marabá e 385 da capital do estado.
Confina – se com os municípios de Goianésia do Pará, Nova Ipixuna e Rondon do Pará. Têm uma
área de aproximadamente 1957,15 km². Sua população estima – se em aproximadamente 51.211
habitantes. Jacundá hoje, têm um contexto sociocultural diferente de anos atrás, devido as mudanças
ocorridas a cidade desenvolveu – se em vários aspecto, em destaque o setor econômico, que foi a
locomotiva para o crescimento da cidade mas como consequência houve um crescimento
desordenado, falta de saneamento básica, educação e lazer.
Atualmente a cidade de Jacundá encontra - se estável diante de inúmeros aspectos, mas
acredito que se essa transição de cidades não estivesse ocorrido, hoje a situação seria diferente, pois
muitas coisas foram deixada para trás. Uma cidade estruturada foi submersa e anos de trabalho
foram perdidos. Apesar do lado negativo, as pessoas não deixaram de busca uma vida melhor e
graças a essa busca constante Jacundá tornou – se o que é hoje.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa feita para a realização desse trabalho foi de extrema importância para minha vida
acadêmica e pessoal, pois através dela pude conhecer a história da minha cidade e observar algumas
características marcantes que estavam esquecidas ao longo dos anos.
Busquei em vários lugares informações que me ajudasse de maneira satisfatória, obter um
bom desempenho de minha pesquisa. Desejo que o resultado do trabalho não sirva apenas para o
meu conhecimento de cidadão “Jacundaense”, mas também para todos que tenham interesse de
saber mais sobre a cidade de Jacundá.


REFERÊNCIAS

SILVEIRA, Claudionor Gomes da. Uma cidade submersa: memória e historia de Jacundá (1915-
1983). Belém, PA: Paka-Tatu, 2001.
BIBLIOTECA PÚBLICA DE JACUNDÁ. Historia do município de Jacundá. Jacundá, PA, 2010.
Disponível em: <http://www.prefeituradejacunda.pa.gov.br/Site/cidade.htm>. acesso em: 07 mar.
2012.

2 comentários:

  1. Belíssimo trabalho! Jacundá deverá se orgulhar de tê-lo como filhos. Precisamos de pesquisadores como você para que nossa história não se perca na memória.
    Um grande abraço.
    Claudionor Gomes da Silveira

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  2. valderez de Jesus Costa22 de outubro de 2016 às 14:28

    Parabéns pelo extraordinário trabalho de pesquisa, para nos e de grande importância,dando-nos possibilidades de conhecermos melhor a historia do lugar em que vivemos e amamos.Obrigado Claudionor Gomes da Silva.

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